quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Alucinações














A porta ringiu no meio da noite. O cansaço físico pode provocar ilusões mentais, e aquele dia tinha sido realmente estressante. Havia muito tempo que as alucinações já se foram, sinta-se curado. “Mil diabos, era impossível tudo estar acontecendo de novo”. Estava enganado. O prédio todo foi sugado e rodopiou como um parafuso girando ao contrário, sacado em alta velocidade.

Soterrado em meio aos escombros, ainda respirava.  “Mil diabos, tirem-me daqui!”, é o que disse com toda a força. Pessoas circulavam chorando e juntando o que restara de seus pertences. Uma menina, não mais de 5 anos, avistou seu brinquedo. “Mãe, veja, é o meu ursinho. Está sem cabeça”. Dois estranhos pilham o que podem e somem do local. “É o que era para ser, minha filha, mas Deus é grande!”.

Olhou ao redor, tudo não fazia nenhum sentido. Aquela senhora havia dedicado a vida para erguer sua casa, e em segundos virou nada. É estranho. Não faz o menor sentido. “Mil diabos, para algumas pessoas isso é motivo para ter ainda mais fé. Achei que tivesse curado das minhas alucinações”. Tropeçou em algo. Era um de seus velhos livros, destroçado. Juntou-o, e mais alguns outros que foi encontrando. Carregava o que podia em seus braços. Dilacerados. Andou um pouco. Deteve-se, subitamente. “Para o diabo com tudo isso”, jogou-os fora.

Estranhos continuavam saqueando as coisas importantes. No final, quando as sombras chegaram naquele monte de escombros, lixo é o que restara.

Alugou um porão escuro e úmido. Era o que alcançava seu dinheiro. “Por mil demônios, trancarei todas as portas. Nenhuma haverá de ringir no meio da noite”.

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