A porta ringiu no meio da noite. O
cansaço físico pode provocar ilusões mentais, e aquele dia tinha sido realmente
estressante. Havia muito tempo que as alucinações já se foram, sinta-se curado.
“Mil diabos, era impossível tudo estar acontecendo de novo”. Estava enganado. O
prédio todo foi sugado e rodopiou como um parafuso girando ao contrário, sacado
em alta velocidade.
Soterrado em meio aos escombros, ainda
respirava. “Mil diabos, tirem-me daqui!”, é o que disse com toda a força.
Pessoas circulavam chorando e juntando o que restara de seus pertences. Uma
menina, não mais de 5 anos, avistou seu brinquedo. “Mãe, veja, é o meu ursinho.
Está sem cabeça”. Dois estranhos pilham o que podem e somem do local. “É o que
era para ser, minha filha, mas Deus é grande!”.
Olhou ao redor, tudo não fazia nenhum
sentido. Aquela senhora havia dedicado a vida para erguer sua casa, e em
segundos virou nada. É estranho. Não faz o menor sentido. “Mil diabos, para
algumas pessoas isso é motivo para ter ainda mais fé. Achei que tivesse curado
das minhas alucinações”. Tropeçou em algo. Era um de seus velhos livros,
destroçado. Juntou-o, e mais alguns outros que foi encontrando. Carregava o que
podia em seus braços. Dilacerados. Andou um pouco. Deteve-se, subitamente.
“Para o diabo com tudo isso”, jogou-os fora.
Estranhos continuavam saqueando as
coisas importantes. No final, quando as sombras chegaram naquele monte de
escombros, lixo é o que restara.
Alugou um porão escuro e úmido. Era o
que alcançava seu dinheiro. “Por mil demônios, trancarei todas as portas.
Nenhuma haverá de ringir no meio da noite”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por sua contribuição!