terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A lida no campo



No campo, a tarde parece cair mais lentamente. Meia verdade, talvez; o viver é que é mais descansado, e aí tem-se essa ligeira ilusão.
Apesar da idade, ainda conserva a destreza no manejo das ferramentas. A diferença entre outros tempos é que agora labuta solitário, ruminando consigo mesmo as coisas da vida.
Dos filhos que criou, um está na cidade, trabalhando; outro, deus sabe lá por onde anda, foi-se para o estrangeiro. A esposa, tal como os filhos, preferiu o emprego da cidade ao lavoro da roça - não a culpa. Perdeu, assim, a companhia de todos.
Lembra, com certo orgulho, que da lavoura sustentou o estudo dos filhos. É um orgulho triste, pois sabe que não consegue acompanhar suas filosofias. Quando jovem, não teve a mesma oportunidade, mas não se queixa.
Já se fartou de ouvir sobre a nobreza de seu trabalho. Parece cansado. Seu andar retesado não é mais o mesmo, nem seu olhar, nem mesmo sua rudeza; volta e meia deixa escapar pequenos ais em meio a lembranças.
Por fim, o sol se pôs mais um dia. O cão, companheiro fiel, já sabe que são horas de voltar para casa.  Vagando seu olhar no infinito, procura entender por que ficara sozinho, se o seu trabalho é assim tão nobre.



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