No campo, a tarde parece cair mais
lentamente. Meia verdade, talvez; o viver é que é mais descansado, e aí tem-se
essa ligeira ilusão.
Apesar da idade, ainda conserva a
destreza no manejo das ferramentas. A diferença entre outros tempos é que agora
labuta solitário, ruminando consigo mesmo as coisas da vida.
Dos filhos que criou, um está na
cidade, trabalhando; outro, deus sabe lá por onde anda, foi-se para o
estrangeiro. A esposa, tal como os filhos, preferiu o emprego da cidade ao
lavoro da roça - não a culpa. Perdeu, assim, a companhia de todos.
Lembra, com certo orgulho, que da
lavoura sustentou o estudo dos filhos. É um orgulho triste, pois sabe que não
consegue acompanhar suas filosofias. Quando jovem, não teve a mesma
oportunidade, mas não se queixa.
Já se fartou de ouvir sobre a nobreza de
seu trabalho. Parece cansado. Seu andar retesado não é mais o mesmo, nem seu
olhar, nem mesmo sua rudeza; volta e meia deixa escapar pequenos ais em meio a
lembranças.
Por fim, o sol se pôs mais um dia. O
cão, companheiro fiel, já sabe que são horas de voltar para casa. Vagando seu olhar no infinito, procura entender por que ficara sozinho, se o seu trabalho é assim tão nobre.
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