quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Nazário, o artista












Todas as manhãs se perguntava se tinha escolhido o caminho certo. Enquanto isso, tratava de ir tocando a vida do jeito que sabia. Naquele dia, mais do que nunca, os questionamentos sobre sua profissão tomaram conta de seus pensamentos. A vida de caminhoneiro, decididamente, não lhe agradava, embora para muitos satisfizesse plenamente. Estava certo que não era seu caso.

Diminuiu a velocidade, aquele trecho era muito perigoso, já tinha feito várias vítimas. Quando venceu a curva mais braba, avistou um acidente. O motorista estava preso às ferragens, ainda respirava. Prestou socorro, chamou os bombeiros, fez o que estava a seu alcance. Horas depois, deixou o local com uma certeza: iria ganhar a vida de outra maneira.

Mechas de cabelos rodopiando no ar. Em poucos minutos, a cabeleira irregular estava toda espalhada ao redor da cadeira. Um novo corte, um novo visual, era o trabalho de um artista - o barbeiro. Então, o menino pagou e saiu. “Sua vez, senhor”. Teve que se desculpar, estava de passagem, entrou para observar o  trabalho do profissional. “Está aí um bom ofício”, pensou.

Impossível esquecer aquele dia. Entrou no camelódromo, foi até a barraca 36, ali comprou sua primeira maquininha de cortar cabelos. Lembrava perfeitamente do conselho daquele profissional: “se quiser aprender, você só tem uma coisa a fazer, cortar cabelos, muitos cabelos”.

Por alguns meses, pegava sua bicicleta, jogava a mochila às costas, partia para o trabalho: um dia no hospital, outro dia na escola, depois na penitenciária, em todos os lugares cortava cabelo sem nada cobrar.

De todas essas pessoas, sempre lhe vem em mente uma em especial. Na verdade, foi seu primeiro corte, era um mendigo. Depois dele, muitas outras vezes trabalharia gratuitamente. Um dia, enquanto trabalhava, as palavras de um desconhecido, que o observava, levariam seu projeto para a etapa seguinte. “Você já é um ótimo barbeiro, pode abrir seu negócio”.

Desde então, Nazário, o barbeiro, sempre procurou se aperfeiçoar. Agora tinha certeza que escolhera o caminho certo. Constituiu família e teve dois filhos. Ensinou-lhes a arte. Cresceram, e escolheram a profissão do pai para ganhar a vida.

Atualmente, Nazário ministra cursos de corte de cabelo, periodicamente, mas continua trabalhando em sua barbearia. É um homem que encontrou a profissão que lhe dá prazer. Se a felicidade tem um segredo, esse é o segredo de Nazário.

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