Todas as manhãs se perguntava se tinha
escolhido o caminho certo. Enquanto isso, tratava de ir tocando a vida do jeito
que sabia. Naquele dia, mais do que nunca, os questionamentos sobre sua
profissão tomaram conta de seus pensamentos. A vida de caminhoneiro,
decididamente, não lhe agradava, embora para muitos satisfizesse plenamente.
Estava certo que não era seu caso.
Diminuiu a velocidade, aquele trecho
era muito perigoso, já tinha feito várias vítimas. Quando venceu a curva mais
braba, avistou um acidente. O motorista estava preso às ferragens, ainda
respirava. Prestou socorro, chamou os bombeiros, fez o que estava a seu
alcance. Horas depois, deixou o local com uma certeza: iria ganhar a vida de
outra maneira.
Mechas de cabelos rodopiando no ar. Em
poucos minutos, a cabeleira irregular estava toda espalhada ao redor da
cadeira. Um novo corte, um novo visual, era o trabalho de um artista - o
barbeiro. Então, o menino pagou e saiu. “Sua vez, senhor”. Teve que se
desculpar, estava de passagem, entrou para observar o trabalho do
profissional. “Está aí um bom ofício”, pensou.
Impossível esquecer aquele dia. Entrou
no camelódromo, foi até a barraca 36, ali comprou sua primeira maquininha de
cortar cabelos. Lembrava perfeitamente do conselho daquele profissional: “se
quiser aprender, você só tem uma coisa a fazer, cortar cabelos, muitos
cabelos”.
Por alguns meses, pegava sua bicicleta,
jogava a mochila às costas, partia para o trabalho: um dia no hospital, outro
dia na escola, depois na penitenciária, em todos os lugares cortava cabelo sem
nada cobrar.
De todas essas pessoas, sempre lhe vem
em mente uma em especial. Na verdade, foi seu primeiro corte, era um mendigo.
Depois dele, muitas outras vezes trabalharia gratuitamente. Um dia, enquanto
trabalhava, as palavras de um desconhecido, que o observava, levariam seu
projeto para a etapa seguinte. “Você já é um ótimo barbeiro, pode abrir seu
negócio”.
Desde então, Nazário, o barbeiro,
sempre procurou se aperfeiçoar. Agora tinha certeza que escolhera o caminho
certo. Constituiu família e teve dois filhos. Ensinou-lhes a arte. Cresceram, e
escolheram a profissão do pai para ganhar a vida.
Atualmente, Nazário ministra cursos de
corte de cabelo, periodicamente, mas continua trabalhando em sua barbearia. É
um homem que encontrou a profissão que lhe dá prazer. Se a felicidade tem um
segredo, esse é o segredo de Nazário.
Essa é uma homenagem ao meu amigo Nazário, de Urubici.
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