terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O cara que queria ser escritor


                                 


                   Já havia feito de tudo um pouco em sua vida. Um desejo latente pairava abandonado nas entrelinhas de seu passado. Nos últimos dias, uma ideia fixa começava a inquietá-lo. O sonho de aprender a arte de escrever retornava agora com mais intensidade. Como se o vento daqueles dias tivesse varrido a poeira acumulada sobre a agenda de seus sonhos. Sentiu que o momento havia chegado. Então, decidiu olhar para frente e atender ao descompasso de seu coração.

                   Caminhos bifurcados adiante. Por onde deveria começar. Cheio de esperanças e dúvidas adormeceu naquela noite. 

                    Era o amanhecer, caminhava por entre a relva ainda molhada. Logo em sua frente, uma casa, tudo nela tinha a coloração sépia, contrastando com o verde floresta daquela miragem. Um senhor de cabelos grisalhos e barba longa estava sentado à entrada. Ao se aproximar, esse senhor rompeu o silêncio. Mandou que chegasse, já o esperava. “Então você busca o fio condutor para ser um contador de histórias? Vou-lhe adiantando, não tenho essa resposta, essa resposta está em você. Não escreva para agradar as pessoas, escreva para derrubar mitos, tabus, preconceitos, inclusive os seus. Seja um provocador. Lembre-se, enquanto o medo for maior que a vontade de fazer, continuará vagando infinitamente nessa trilha. E agora, siga”, finalizou. 

                     Retomou a trilha e seguiu em frente. Guardou cada palavra do grande mestre. Precisava manter o controle, mas seu coração começou a pulsar mais forte. Logo adiante, como se a casa fosse uma réplica e estivesse andando em círculos, lá estava o senhor de barbas longas. “Busque a essência para fugir do vazio, da superficialidade. Nada que importa está ao alcance dos olhos, tente olhar com o coração”. Parou por um instante, como a dar tempo para que o aprendiz meditasse sobre as palavras que foram largadas ao vento. “Olhe para o céu numa noite de lua cheia”, continuou. “O brilho e o tamanho da lua fazem supor que ela é a gigante do firmamento. No entanto, é centena de vezes menor do que a estrela mais próxima. Tudo depende da perspectiva, do ponto de vista daquele que vê. É preciso desenvolver a capacidade de transportar-se mentalmente para outro lugar. Poderá ter surpresas e encontrará outras verdades. Não somente contará histórias, mas viverá outras vidas”. Fez agora uma longa pausa, entreolharam-se por um instante. “Siga em frente”, disse, se retirando. 

                      Enquanto prosseguia na trilha, decifrava a metáfora do segundo mestre. Uma suave luz no horizonte já começava a surgir. Um possível sinal a dizer que era capaz. Já não foi mais surpresa quando viu uma casa muito semelhante às outras. “Para atingir os homens é preciso observar os pássaros. Escreva com a leveza de seu voar. Não espere ficar pronto. Pronto está aquele que abdicou de aprender”. Isso foi tudo o que o terceiro mestre falou. 

                       Seus olhos se abriram, uma pequena fenda em sua janela deixava ver que o dia havia amanhecido. Tomou um lápis e começou: “Era uma vez um jovem que queria ser escritor...”



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