Alguns povos reverenciam seus idosos.
Como se as pessoas longevas tivessem acumulado sabedoria, a sabedoria de um
saber viver. Ouvir uma pessoa assim é ver com os olhos dela as marcas do
passado, as histórias vividas em outros tempos. É tudo uma questão cultural,
mas a maioria das pessoas assim não tem essa sorte.
Eram nítidas as rugas, a passagem do
tempo, naquele rosto. Uma perna avança lentamente, encontra o solo para se
firmar, a outra se move suave e indecisa, um demorado passo foi dado. Há o
tempo certo para tudo: o tempo de correr e nadar, o tempo de engatinhar, o
tempo de viver a vida que passou.
Mais alguns passos e um quarto de hora,
e Maria estava posicionada na área frontal de sua casa. Poderia ver dali os
carros, os ciclistas, a vida que andava lá fora. Poderia ver dali a vida que
tinha ficado para trás, quando mirava um ponto qualquer e vagava para dentro do
mundo que um dia viveu.
As pessoas fogem da solidão, enquanto
jovens. Há um tempo para tudo. Mais tarde, deverão aprender a viver só, não por
vontade própria, mas por necessidade. Maria tinha aprendido a conviver com a
solidão - a sabedoria de um saber viver. Ninguém mais tinha paciência para
ouvi-la, eram sempre as mesmas e velhas histórias. Quem sabe, por isso, Maria
pouco falava, tinha sacado o barato, tá ligado!
Num daqueles domingos ensolarados, os
netos chegaram trazendo o frescor da vida. Tinha chegado o tempo de aprenderem
a pedalar. E o gramado de sua casa era um convite explícito para brincarem.
Certo que caíram e levantaram e brincaram a tarde toda.
Postada ali em seu banco, olhava os
netos, a vida exuberante, as risadas, os esfolados, as brigas, o cair e
levantar. Então Maria sorriu. E o sorriso de Maria era o mesmo sorriso de
sempre. O sorriso não tem as rugas do tempo, o sorriso não envelhece.
Amore, tudo a seu tempo.
ResponderExcluirO tempo de ignorar os idosos e suas históris contadas mil vezes...
O tempo de não ter paciência com as crianças...
E, o tempo de vermos que nosso tempo também passa.