Ao toque no controle, o portão
eletrônico imediatamente responde. Estava chegando um pouco mais tarde aquele
dia. No banco ao lado, estava o presente de aniversário à sua mulher. Um lindo
colar dourado, vinte e quatro quilates. Teve a sorte de ainda estar lá, desde o
dia em que sua esposa o admirou na vitrine daquela loja, pensava em comprá-lo.
Seria uma bela surpresa, um pouco cara, é verdade, mas uma das coisas que o
dinheiro podia comprar.
Um show privado aconteceria mais
tarde, por isso a festa estava programada para um pouco mais cedo. Seria como
se tudo fizesse parte do evento, e por sua conta, é claro. Um aniversário com
certo requinte. Talvez assim sua esposa poderia se sentir melhor. Andava com
uma estranha tristeza últimos dias.
Jogou-se na poltrona. Era uma ala ao ar
livre de onde poderia se ver parte da piscina e o contorno dos arbustos bem
aparados de seu jardim. Acendeu seu charuto. Tragou. Fechou os olhos por um
instante. Parecia estar bem. Um homem de negócios bem-sucedido. Olhou o relógio,
era hora de os convidados começarem a chegar.
Lindos rostos, belos corpos bronzeados,
um clima de euforia no ar, era o efeito diabólico do champanhe. As sutis
formalidades iniciais já se foram, agora a conversa fluía daquele jeito. Esse
era o momento esperado, exatamente no clímax, e veio a palavra de ordem: “tenho
uma pequena lembrancinha para você!”.
Suspiros. Exclamações. ”Divino! Deve
ter sido caríssimo”. “Ela merece muito mais, é apenas uma lembrancinha”.
Um ruído seco quebraria o encanto daquele
momento. Era o jornal que havia sido jogado por cima do portão. “Chame o
entregador, separe uns docinhos”. “Você é um homem de sorte, leve isso para
casa, hoje é aniversário de minha mulher”. “Leve também esse jornal, hoje aqui
ninguém vai ter tempo para ler”. Um ato de solidariedade também pode fazer
parte do show. “Os docinhos eu aceito de coração, mas o jornal não me
adianta, eu não sei ler”. Fez um leve aceno com a mão e voltou-se para a rua,
muitos exemplares ainda deveriam ser entregues.
Bummmmm, mais um espumante estourou. Havia lá dentro outra realidade.
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