Nenhuma bandeira sindical faz sentido,
se os direitos pelos quais se luta não poderão ser repassados a todos os
trabalhadores de uma nação. Um sindicalista eleito pelo voto direito não é
suficientemente insano a ponto de radicalizar nessa questão. Os princípios
sindicais avançam, velhas práticas são vencidas, mas o corporativismo é um
monstro que precisa ser contornado com sabedoria. Cláudio Del Prá Netto sabia
disso. Ao longo de sua devoção ao sindicalismo ganhara o respeito de seus pares
e da base que representa. Por isso, poderia agora mostrar com tranquilidade a
nova face de sua visão. O vanguardismo tem um preço. Estava suficientemente
maduro para defender com vigor essa cruzada; no entanto, sabia perfeitamente
que iria contrariar muitos interesses.
Fez um périplo pela região, levando sua
palavra. Precisava esclarecer alguns pontos. Nem se pode adotar o confronto
como premissa, tampouco abrir mão do direito inalienável de questionar,
discordar, pedir explicações, e judicializar, se preciso for. Movimentos
políticos são mais eficientes que tudo isso junto, e para isso é preciso
consciência e formação crítica. E essa formação crítica seria a nova frente que
estava disposto a encampar. Sabia do baixo índice de participação e
comprometimento dos trabalhadores no tocante à participação em assembleias e ao
enriquecimento de debates. Isso precisaria ser mudado.
Subiu à tribuna. Concedeu um aparte. Um
de seus pares fez um gesto de despedida. Depois de alguns anos, deixaria em
breve a diretoria do sindicato. Seu ciclo havia chegado ao fim, pelo menos como
diretor, pois jamais deixaria as fileiras desse movimento, já que em suas veias
circula o sangue sindicalista, e é dessa argamassa que é feito. Fechou seu
recado com a seguinte mensagem: “Permanecer por tanto tempo como
sindicalista é fácil, o difícil é ficar do mesmo lado”. Volnei Rosalen. O
Presidente retomou a palavra, visivelmente emocionado, agradeceu alguns
companheiros de forma simbólica, como se quisesse atingir cada um que esteve
junto na longa caminhada sindical. Interrompeu por momentos suas palavras.
Fez-se silêncio no auditório. Havia algo de estranho no ar. Uma lágrima rolou
na face do Presidente. Já não dava para dizer mais nada. Chorou. Um
sindicalista chorou na tribuna. Esse choro dizia mais, dizia mais do que vários
discursos. Foi ovacionado. Sua grande cruzada havia começado naquele instante.
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