Havia tentado largar o fumo outras vezes.
Muitas outras vezes. Inúmeras vezes. Nem mais saberia dizer quantas vezes. Uma
sucessão de fracassos que afundavam cada vez mais sua autoestima. Sentia-se um
pedaço de gente. Meio homem, meio nada.
A nicotina, sua mordaz companheira, já
levou muitas vidas, abreviou muitas histórias. Mas o pior que ela faz é
pigarrear as entranhas de sua presa.
Um fumante não é um viciado, é um
doente. Um doente que precisa de cuidados especiais. Só outro produto químico
pode combater com eficiência a dependência química. No entanto, ele não pensava
assim. Ele se sentia fraco, se sentia menos, se sentia incapaz. Nunca se
considerou um doente à espera de ajuda.
Não era o único a pensar assim. Falavam
que dependia só dele, que o que lhe faltava era vontade, persistência, vergonha
na cara. Uma ideia repetida 333 vezes se torna verdade. Todas acreditavam
nisso, e ele também.
Aquele com o isqueiro na mão, ali vai ele tentando outra vez.
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