O orvalho que virou geada. Querem
alguns que foi obra do acaso; outros, que foi obra de um Arquiteto. Mistérios
do amanhecer.
Como transmitir em palavras a sensação
de frio, fico a me perguntar. O frio penetra em todos os poros. Quando falo, a
voz parte da boca, mas logo se choca em um bloco invisível de gelo, e quase
posso vê-la cair e rolar pela grama encoberta de geada. Animais e plantas usam
artifícios para suportar baixas temperaturas. Uma grande parte sucumbe, porém.
Outros devem nascer em seu lugar. O fim é a senha para a renovação. Ciclos da
vida.
É muito cedo e a cidade ainda dorme. Um pássaro entoou seu cantar costumeiro, um cão uiva para dentro, aponta fumaça
em uma chaminé. Em breve, alguns raios devem romper a névoa que se formou no
horizonte, e deixar verde o chão agora branco. Mais tarde, a locomotiva -
chalap, chalap - põe a cidade em movimento, e a geada então já se desfez. O
orvalho não deixa de ser orvalho só por que pela manhã estava pintado de branco.
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