“Aqui está minha grande oportunidade”,
bradou Zeca. “O que é?”, perguntou Joana, sua mulher. Zeca havia encontrado um
saco com notas de 10, 20 e 50 reais. Estava jogado atrás do abrigo da parada de
ônibus. Mais tarde se confirmaria a importância de 20 mil ao todo.
O casal era morador de rua havia já
algum tempo. Oriundos da região do Agreste, deixaram os pais e vieram tentar a
vida na cidade grande. A esperança de uma vida melhor pouco durou, logo foi se
desfazendo diante das dificuldades de encontrar trabalho. Sem qualificação, mal
sabendo ler e escrever, não restou outra saída senão morar na rua.
E assim, aquilo que um dia foi
esperança agora é um monte de trapos velhos, de caixas de papelão, de miséria.
Embaixo daquele viaduto, ouvindo o zunir dos carros que passam em alta
velocidade, ficam durante a noite, durante o dia, nos finais de semana, no
natal, na virada de ano, porque ali é a casa deles.
Chegaram ao último estágio da miséria,
da miséria material. Mas isso parece que não os incomodava. Zeca e Joana,
apesar de tudo, eram de uma riqueza que já não mais se vê por aí. Uma riqueza
chamada honestidade.
Pegou aquele saco de dinheiro e seguiu
em direção à Delegacia de Polícia. Sua mulher, calada, o acampanhou, assim como
o acompanhava em todas as ocasiões. Entregou o dinheiro à polícia e voltaram
para debaixo do viaduto. A polícia já tinha registro de um furto em um
supermercado nas redondezas. Na perseguição, os ladrões se livraram do
dinheiro.
Um carro de reportagem encostou, outro
carro de reportagem chegou. Zeca e Joana são fotografados, entrevistados, vão
parar no jornal da noite. Aquele foi um dia cheio. Os repórteres já foram
embora, o momento de celebridade passou. Amanhã mil fatos serão notícias, e o
ato do Zeca já terá sido esquecido. E os trapos e caixas de papelão e a vida do
Zeca e da Joana estarão ali debaixo do viaduto.
“Zeca” - exclama Joana, olhando com
cara de quem medita -, “eu não entendi uma coisa, quando você achou o dinheiro,
por que você disse que era sua grande oportunidade?”. “Joana” - Zeca falava
pausadamente -, “se minha mãe fosse viva e ficasse sabendo, iria se orgulhar de
mim. Eu sempre quis que minha mãe se orgulhasse de mim. Eu quase tenho certeza
que minha mãe diria: esse é meu filho”.
* Baseado em fatos reais.
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