domingo, 12 de março de 2023

Sítio arqueológico pré-colonial: arte rupestre

 

A legião indígina Xokleng foi o primeiro povo a habitar a Serra Catarinense. Aqueles indígenas foram totalmente exterminados. Conforme Ireno Pinheiro, bugreiro, 1972: “O assalto se dava ao amanhecer. Primeiro, disparavam-se uns tiros. Depois passava-se o resto no fio do facão. O corpo é que nem bananeira, corta macio. Cortavam-se as orelhas. Cada par tinha preço. Às vezes, para mostrar, a gente trazia algumas mulheres e crianças”.  Hoje, na área indígena de Ibirama, SC, os Xoklengs sobreviventes ainda conservam traços de sua milenar cultura. A fala e a escrita sobreviveram ao tempo, e as novas gerações valorizam cada símbolo que chegou até aqui. A necessidade de adaptação a outros valores vai modificando a cultura Xokleng, como a venda de artesanatos em cidades como Blumenau, Camboriú, Joinville e Florianópolis, conforme Santos (2012). Aí está o povo que esculpiu as artes rupestres que serão aqui mencionadas.

Em Urubici (pássaro lustroso, na linguagem xokleng), encontram-se alguns sítios arqueológicos pré-coloniais, os quais são conhecidos popularmente como arte rupestre. Segundo dados do Iphan, pelo menos dois sítios pré-coloniais contemplam a arte rupestre, os sítios denominados Morro do Avencal I e Morro do Avencal II.

Conforme consta do portal do Iphan, assim é descrito o Morro do Avencal I:  Litoglifos gravados em paredão de rocha arenítica, do lado do sol poente, com paralelogramos, triângulos, zoomorfos e antropomorfos”, o qual enquadra-se na categoria pré-colonial. O sítio é considerado de média relevância. Quanto às suas condições de preservação: “tentativas de escavação de tesouros ao pé da rocha, com abertura de trincheiras. Mutilação de inscrições rupestres. Escavação manual ou mecânica”.

A respeito da arte rupestre encontrada em Morro do AVencal II, os registros indicam que se trata de “Petroglifos gravados em rocha arenítica relativamente pequena. A parte mais alta projeta-se um pouco à frente, formando pequeno abrigo sob rocha”. Os petroglifos cobrem área de 2m de altura por 5m de comprimento. Tanto o Morro do Avencal I como o  II são caracterizados na modalidade arte rupestre em gravura.

Conforme portal clique arquitetura, as inscrições rupestres datam de 3000 atrás. Foram registrados oficialmente pela professora Water A. Piazza, em 1964, e pelo Padre Roh, em 1966.  Ainda segundo tal referência: 


Para quem ama história e especialmente arte primitiva, esta é uma oportunidade rara: o acesso é fácil e as inscrições estimulam a curiosidade.

São desenhos simples, mas de importância histórica incalculável. Para os estudiosos, o objetivo principal não se restringe apenas em interpretar os desenhos, mas sim entender como as antigas sociedades viviam e o que faziam, datando a evolução das técnicas e da cultura humana.


Por fim, essas marcas deixadas pelos nossos ancestrais despertam o interesse e a curiosidade do homem atual, são objetos de estudo. Como menciona Silvio Coelho dos Santos, em sua obra, naquela área indígena de Ibirama, SC, ainda vivem 1200 pessoas. “A língua Xokleng é falada pela maioria, numa manifestação explícita de resistência”. Mas a lição extremamente válida para os dias atuais é o seguinte fato: na comunidade Xokleng “o coletivo ainda predomina sobre o individual. Se alguém tem demais, divide”. E assim segue a saga de um povo.



História - Seminário Integrador em História II

Charles

Referências


BRASIL. Iphan. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/. Acesso em: 23 mai. 2021.


SANTOS. Charles Ferreira dos. Xokleng: lendas, segredos, mistérios. Urubici, folheto, 2012.


SANTOS, Sílvio Coelho dos. Os índios Xokleng: memória visual. Florianópolis, UFSC/UNIVALI, 1997.


Clique Arquitetura. Inscrições Rupestres em Urubici - Santa Catarina. Disponível em: https://www.cliquearquitetura.com.br/. Acesso em: 23 mai. 2021.

Um retrato explica tudo

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Corria o ano de 1948. Pelo mundo, era o ano em que a ONU proclamava a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Era preciso uma reação forte às atrocidades da Segunda Guerra Mundial. O ideal a ser atingido por todos os povos e nações deveria passar pela solidariedade e educação.

Na pequena vila Santa Bárbara, em Bom Jardim da Serra, em seus 18 anos de idade, alheia ao movimento internacional, uma menina chamada Carolina cumpria anonimamente, sem que soubesse, o desiderato daquela Declaração Universal.

Esta é uma pequena passagem da história de Carolina, a menina de ouro que encantou e ainda encanta Eracele, e desde então lá se vão 65 anos.

As marcas da longevidade estão salientes, o tempo cobra seu preço, são os efeitos colaterais de uma vida longa.

Porém, em Carolina há algo que não sofreu as marcas irrefreáveis do tempo: sua vivacidade. Ela discorre sobre sua vida, sobre as coisas daquele tempo, com uma espontaneidade encantadora.

Não que não houvesse dinheiro, pois era o tempo dos réis. Algo como mil réis já se podia considerar um bom quinhão, mas predominava a cultura do escambo. A família de Carolina produzia queijo e trocava por açúcar grosso e farinha.

A distância não se media em quilômetros, mas em horas de cavalo. Santa Bárbara estava a 1 hora de cavalo de Bom Jardim da Serra, descreve Carolina.

Mas o que de fato faz seus olhos brilharem com mais intensidade são as recordações da Escola Monte Serrate. A escolinha, que ficava no povoado de Santa Bárbara, estava a meia hora a pé da casa de Carolina.

De lá vêm as melhores lembranças. A mocinha, tão logo aprendera as primeiras lições, já se prontificava a socializar seu saber. Foi, então, professora por 4 anos. E esse tempo marcaria docemente sua vida.

Doces lembranças. Ainda se lembra de alguns depoimentos, que narra com prazer: “Se hoje sei ler e escrever, devo à Senhora tudo que aprendi”, diz uma amiga de então.

A educação, naquele tempo, era um privilégio para poucos, daí a importância da solidariedade de Carolina.

Nem só de doces recordações ela vive, pois já se despediu de muitas pessoas queridas ao longo de sua jornada. Sua voz embarga ao rememorar a criança de 3 anos, que foi levada pelo vento. Interrompe suas memórias nesse ponto e parece se transportar para o cenário de destruição, em Santa Bárbara, deixado pelo tornado.

Logo recobra sua expressividade e fala do carro de boi e das vezes que precisava quebrar gelo para poder lavar fraldas no tanque.

Eracele, companheiro dessa jornada de 65 anos, acompanha interessado a narrativa de Carolina. “É uma entrevista”, diz ele aos netos que passam por ali. Então lhe pergunto o que lhe chamou atenção na mocinha Carolina, naquele tempo? Ele responde com um retrato daquela época, que retira da parede. Faz sentido, uma imagem vale mais do que mil palavras, diz o velho ditado.

O grande prêmio e condecoração que Carolina recebeu pelo seu oficio de professora, naqueles tempos difíceis do passado, foi a serenidade e paz de espírito que tanto precisa para a travessia do outono de sua vida.

Carolina, 85 anos, sangue indígena nas veias; Eracele, 90 anos, brasileiro nativo; 65 anos de casados e muitas histórias para contar.



Urubici, SC, primavera de 2015.




charlesfs@hotmail.com



O ano era 2008

 O ano era 2008


O ano era 2008. Chegava ao meio século de existência. Convidei minhas/meus queridas/os para tal momento histórico.  Olhei para trás,  mas também mirei o futuro.  Disse nesse fala que nas pequenas coisas é que reside o belo. Jamais imaginaria que em poucos dias meu pai (maio) e meu sogro (outubro) se despediriam da vida. E ainda nesse ano colocaria um ponto final na minha trajetória na Samuray. 2008, meio século, a vida apenas estava só começando…


2008


Querida Nona Ignez

Chegamos em 13 de dezembro e voltamos em 29 de dezembro de 2020 da casa da Nona. Pedalamos e caminhamos quase todos os dias. Matamos um pouco a saudade de Barracão. Ali a Clau e eu nos conhecemos e casamos, e tivemos a Michele. Ali concluímos o segundo grau, onde nos conhecemos. Portanto, temos muitas coisas para lembrar de Barracão. Mas o ponto alto dessa viagem não foi a atividade física, não foram as coisas que deixamos, como o banco de flores, os vasinhos de chás no muro, as comidas deliciosas da Clau, o vinho do segurança da Coocam, o ponto alto foram as conversas com a Nona, digo, os causos da Nona, resgatando seu passado distante. Valeu a pena. Obrigado, minha amada Nona.


Barracão, 29 de dezembro de 2020.

Vibração: o legado de Carolina e Eracele

 Vibração: o legado de Carolina e Eracele



Era primavera de 2019, quarta-feira de um dia qualquer. A noite já caía como costuma fazer desde sempre por aquelas horas. Tudo parecia se repetir tão igual, tão rotineiro, até o momento em que chegamos na casa de Carolina e Eracele.


Ela, 89 anos, ele, 94 anos de idade. Estão cambaleantes, é verdade. Mas há algo neles que encanta. Carolina e Eracele ainda vibram por pequeninas coisas que acontecem em sua volta. Vocês, meu queridos, tão lindos nessa velhice, tão carinhosos, tão parceiros, tão vibrantes com pequenas coisas, tão cheios de vida, tão cheios de amor.


Então chegamos na casa de Carolina e Eracele. Seu Eracele fala de seus passeios, de suas prosas, de suas recordações do passado longínquo. Carolina retoma os causos de sua saga no inesquecível lugarejo chamado Santa Bárbara. Carolina traça planos para o futuro. “Em fevereiro de 2020 - diz ela - faremos nossa festa de 70 anos de casados, e vocês já estão convidados. Armaremos uma barraca aqui no quintal, ou em outro lugar, que seja. Eu e Eracele queremos ver todas as pessoas que amamos nessa festa”. 


Vibração, o legado de Carolina e Eracele.


Obrigado por fazerem parte de nossas vidas. 


De um casal de amigos.



Primavera de 2019, Urubici



Clau e Charles


A paisagem é um livro de histórias

 A paisagem é um livro de histórias



O foco aqui é sobre as contribuições da História Ambiental ao estudo da história humana. Salutar, pois, contextualizar o momento presente: um cargueiro encalha no Canal de Suez; um vírus provoca pandemia, causando mais mortes do que muitos eventos naturais; em nível local, bem, em nível local está uma maravilha: o vírus é uma criação comunista, e a variável de desenvolvimento sustentável é interferência indevida na soberania nacional. 


De modo que não é sobre o que a política de um país pode fazer para a construção da História Ambiental, mas o que a História Ambiental conta sobre a ação humana. A ação humana de hoje (queimadas em larga escala, flexibilização de políticas ambientais) certamente será objeto de leitura de historiadores ambientais, em futuro próximo. Como preâmbulo, é isso.


Segundo Oliveira (2018), a História Ambiental, de caráter interdisciplinar,  se sustenta em 3 grandes pilares: metabolismo social, paisagem e território. Discorrer sobre tais pilares, pois, é adentrar nas profundezas da História Ambiental.


O metabolismo social, assim como o conceito de metabolismo aplicado à Biologia, é o processo pelo qual o homo sapiens interfere (e também sobre interferências) na paisagem e no território. De modo que é possível estudar que tipo de humano habitou tal lugar, a partir da observação de suas marcas em determinado espaço. Em outros termos, a História Ambiental conta o que foi feito com as coisas da natureza, e assim contando pode construir a história daquele que nela interferir. Assim, em quebra de paradigma, a História Ambiental não conta a história de heróis, de nações vencedoras, de impérios, de ditadores, mas esmiúça a história a partir de um ponto de vista ecológico.  


Por sua vez, o pilar paisagem está carregado de histórias, impregnado de passado. Carrega em suas entranhas a herança de processos naturais, assim como da relação com humanos. Por isso, a paisagem é algo em constante transformação, em movimento. A rigor, uma paisagem é um livro de histórias.


Já o território, outro pilar da História Ambiental, é o ponto geográfico onde grupos, humanos ou não, se estabelecem. De sorte que o território tem o condão de moldar as pessoas e a fauna em geral, já que as condições ambientais é que definem, pelo menos em parte, a profissão das pessoas, seus afazeres, assim como a sobrevivência ou não de certos animais. Outra vez, a História Ambiental pode ser escrita a partir do estudo de tal lugar, mesmo centenas de anos após sua ocupação.


Por fim, parece óbvio que a História Ambiental, para avançar na história do conhecimento, deve tomar de empréstimo saberes de outras áreas, tais como Biologia, Botânica, Sociologia, Filosofia, História, Geografia, Paleontologia, entre tantos outros.


Charles


Referências


OLIVEIRA, Rogério Ribeiro de. A história no lombo de mulas: transformação da paisagem e História Ambiental. Departamento de Geografia e Meio Ambiente, PUC, Rio de Janeiro, 2018.


Parada 21, Canoas

 Parada 21, Canoas


Grande Porto Alegre.  O motorista brecou o caminhão,  abriu a porta e disse alguma coisa como:  aqui é  Canoas  e esta é a parada 21, e é aqui que seu pai pediu para deixá-lo. Tenha juízo! Vi ao longe uma réplica de um grande avião. Faz sentido, pensei comigo, vim aqui prestar concurso para a Aeronáutica. Não lembro ao certo minha idade, devia estar entre os 14 e 16 anos, não mais. Por que releio isso agora e por que tal fato me marcou profundamente é o que vou contar agora. 


Meu pai era um sonhador.  Um de seus sonhos,  presumo, era ver um filho piloto de avião.


De modelo a toda terra

 “Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra.”



O noticiário mal havia deixado para trás o caso de condições de trabalho análogo à escravidão nas regiões de produção de vinho no RS. E então outras denúncias semelhantes vêm à tona. Agora na produção de arroz, também no RS. 


Entenda a polêmica envolvendo o hino do Rio Grande do Sul (letras.mus.br)


Existe sim fumaça de esperança no horizonte, não sejamos tão pessimistas. O RS será representado no Senado da República por Mourão. Ele é o sujeito que cuidava da Amazônia no governo passado.


Mas o foco agora é outro. Semana que vem tem Grenal.


Bombinhas, 12 de março de 2023.


Charles



Pessegueiro

 Pessegueiro


Pedalava pela manhã e então me deparei com essa bela árvore.  Pessegueiro florido remete à lembrança de meu pai. As coisas à nossa volta têm um certo significado, um significado pessoal. Por isso, cada um tem uma definição muito particular sobre as coisas deste mundo. Que bom que seja assim.  Um pessegueiro florido, uma bicicleta, um cão latindo podem ser nada mais do que literalmente expressam, mas eventualmente podem estar impregnados de simbolismos. Depende apenas do ponto de vista do observador. 



Urubici, 7 de agosto de 2018.


Charles



O caminho se faz ao caminhar

 O caminho se faz ao caminhar


Estamos em Urubici,  mas somos do mundo. Ontem fizemos um treinamento para o Caminho de Compostela. Pode existir um traçado, um trajeto de caminho, porém,  de fato, “o caminho se faz ao caminhar”, como diz o poeta. Agora começamos a entender o significado disso. O Caminho começa desde o primeiro plano, desde a primeira ideia, desde o primeiro passo para o primeiro ensaio. A rigor, não existe um treinamento,  já que todo treino é um caminho. 





Clau (58) e Charles (61), desde Urubici, maio/2019.