Surfar nas ondas de um sucesso é fácil,
difícil é fazer um sucesso acontecer. Se o veneno do escorpião vende, então
produzam veneno. É a velha política do menor esforço. É danado escrever sob
pressão, ainda mais quando o editor já lhe impõe o título, no caso, “A
Surfistinha que não deu certo”, e de quebra determina um prazo - urgente. Bem
que fui aconselhado pela família, pelos amigos, por quem quer que comentasse:
“Nunca deixe seu emprego só para escrever, é temerário”. E eu, teimoso como uma
mula, obviamente não dei ouvidos. Não consigo um troco nem mais para a pinga.
Era
jovem, bonita, corpo atraente e tinha um escorpião tatuado no seio. No início,
mesmo o trampo sendo caro, sua agenda estava sempre lotada, dava até para escolher e
dispensar alguns. Algo começou a dar errado naquele dia em que experimentou cocaína,
que um destemperado lhe ofereceu.
“Eu sei que é urgente, estou fazendo,
está saindo, está ficando uma eme, mas está saindo. Não me ligue
mais, a hora que ficar pronto mando por e-mail”. Era o editor, eu devia tê-lo
mandado...
Depois daquele dia, nunca mais seria a
mesma. O preço foi caindo, não havia mais agenda. Se não estivesse drogada,
estaria de ressaca, e a grana começou a faltar. Cremes, roupas, perfumes, nem
sombra do que foram um dia. Luna estava muito mal, mas não o suficiente que não
pudesse ficar pior.
Horas de espera e então um cliente.
“Não quero transar, só conversar, preciso escrever um conto. Fale-me de sua
experiência, conte-me alguma coisa inusitada”. “Não vai dar, hoje estou
travada, nem conversar posso, procure outra”.
Alô, editor, não vai dar, não trabalho
sob pressão, procure outro”. Pô!
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