domingo, 19 de novembro de 2023

A guerra contra o Brasil, Jessé Souza. Anotações


Anotações a respeito da obra de Jessé Souza: A Guerra Contra o Brasil - como os EUA se uniram a uma organização criminosa para destruir o sonho brasileiro, 2020.


 Os fatos do mundo não são obras do acaso. 


Conforme Jessé Souza, "Este livro analisa desde as pre-condições históricas e simbólicas mais amplas e gerais até o momento presente, quando se insinua o instante mais perigoso da história brasileira. Hoje o poderio americano se une ao crime organizado para destruir a sociedade e o Estado brasileiros de modo consciente e voluntário, como parte de um projeto de poder mundial planejado nos ínfimos detalhes. Boa parte do que é dito aqui poderá parecer a alguns teoria da conspiração. A mesma crítica me foi dirigida quando da publicação de A Elite do Atraso. A Vaza Jato de Glenn Greenwald, no entanto, comprovou a trama que havíamos reconstruído no livro. Está é uma leitura para quem acredita que os fatos do mundo não são obra do acaso, como quer nos fazer crer uma imprensa que isola os fatos e fragmenta a realidade para torná-la incompreensível. Afinal, quem tem interesse em que o mundo seja percebido como um acaso, como algo fortuito e sem direção, é precisamente quem o controla com mão de ferro. Este mundo tem donos que efetivamente conspiram, todos os dias, para reproduzir seus poderes e privilégios e explorar os que foram feitos de tolos. Geralmente, os tolos são os que acredita no acaso e na coincidência."


Em determinado ponto, Jessé comenta que "A ciência herdou da religião o prestígio de dizer o que é verdadeiro ou falso. E quem decide o que é verdadeiro ou falso costuma decidir também algo muito mais importante: o que é justo e o que é injusto [...]". Pag. 21.

Em outro momento, Jessé pontua que "Relações fáticas de dominação são justificadas a posteriori como decorrentes de uma superioridade natural das culturas com mais espírito em todas as dimensões: mais inteligentes, de melhor gosto e, ainda mais importante, honestas. É desse modo que a pseudociência legitima situações de dominação e de opressão sistemáticas".

Jessé discorre sobre mecanismos utilizados para legitimar a desigualdade e a injustiça social de fato.


Imperialismo americano informal


Jessé classifica como imperialismo informal a situação em que a dominação americana se dá sem intervenção militar direta, mas por meio de uma tal pseudociência, a qual legitima sua visão de mundo, ou seja, sua superioridade.

"A ciência americana que legitima seu imperialismo informal tem que ser compartilhada também pela ciência oficial dos países satélites". Pag. 46.

E é esse imperialismo que impede o desenvolvimento igualitário entre os países do mundo.

Como exemplo, Jessé cita a entrega a preço de banana da Embraer à decadente Boeing. De modo que "passamos literalmente a amar quem nos domina e escraviza". Isso porque o racismo primordial que se torna "científico" define o empresário americano como íntegro e o brasileiro como corrupto. Pag. 49.


A guerra híbrida: ideias envenenadas e juízes corruptos no lugar de bombas e balas


Nesse capítulo, Jessé trabalha com a ideia de como os EUA conseguiram minar empresas brasileiras bem posicionadas, como a Odebrecht e Petrobrás, e também levar à prisão o líder da ascensão popular no Brasil. O mote utilizado, como em outras narrativas, foi a corrupção. Em suas palavras: "[...] Bastava construir uma linha de continuidade e chamar, para encabeçar o protesto, a classe média moralista e ressentida por anos de ascensão popular". "Como sempre, e a história o demonstra, os autoproclamados combatentes moralistas da corrupção são os maiores corruptos". Se refere aqui ao Moro, Dallagnol e seus asseclas, definindo a Lava Jato como organização criminosa. Pags. 81-104.


Uma elite neocolonial sem projeto nacional 


Em dado momento, Jessé discorre sobre a expressão "vira-lata" nos seguintes termos: 

"Quem é vira-lata e corrupto, portanto, não é o povo brasileiro, como querem nos fazer crer os intelectuais elitistas, mas a própria elite [...]".


A formação do pacto racista e elitista contra o povo


Interessante a abordagem discorrida por Jessé a respeito de como a soberania popular é atacada pela elite. Em seus termos; "[...] Se não se pode mais limitar o voto a 5% da população, então deve-se achar uma maneira de desacreditar, criminalizar e estigmatizar o voto popular. É desse modo que o esquema de poder que vigorava desde a escravidão continua sob disfarces modernos".  

Essa abordagem, e aqui está um desdobramento que faço eu, remete àquele chavão segundo o qual todo político é corrupto. O que significa exatamente essa criminalização da soberania popular, isto é, já que o sistema eleitoral resulta da democracia, então é o caso de abrir um flanco para golpes de estado, tirando de lá os escolhidos pelo povo. 


Da guerra contra os pobres à guerra entre os pobres


A gênese americana da destruição do sonho brasileiro


Este capítulo é essencial para compreender o ponto de vista de Jessé Souza, em relação às ideias expostas nesta obra. 

"O problema do neoliberalismo progressista é que ele apenas finge o seu "progressismo" para melhor vender a desapropriação neoliberal". Refere-se aqui aos EUA, já que vem de lá as ideias que serão vendidas aqui no Brasil. Então, a ideia que avançou lá e depois aqui era: "Gastar dinheiro com os mais pobres, proteger o meio ambiente, regular a vida econômica, subsidiar a saúde e a educação: o Estado não faria mais nada disso".

A narrativa caminha assim: "Murray lamentava que os esforços do Estado de bem-estar social americano houvessem criado tão somente uma "cultura de dependência do pobre" dos favores estatais. O mesmo tipo de argumento que seria usado no Brasil anos depois, combatendo o Bolsa Família". Existe sempre um arcabouço pseudo-científico para envernizar as ideias que serão vendidas, assim nasce a fábrica de fake news. Nas palavras de Jessé: "Verdadeira é a "notícia" que lograr obter o maior número de compartilhamentos no WhatsApp e likes no Facebook, permitindo que as questões centrais do debate público sejam resolvidas pelos que têm mais dinheiro para disseminar seu discurso". Pags. 145-164

Conforme Jessé Souza, "O "crime" maior do lulismo - para além de sua política de compromisso e de não mobilização - foi ter, pela primeira vez na história brasileira, beneficiado essa classe de condenados e humilhados". 


Em síntese, conforme palavras de Pascoal Soto, "A Guerra contra o Brasil de que trata este livro não é do tipo convencional: não incendeia cidades nem utiliza bombas e mísseis. Para o consagrado sociólogo Jessé Souza, autor de A Elite do Atraso, as armas dessa guerra são o racismo, a subserviência da nossa elite econômica, a mentira, o fundamentalismo religioso e o fascismo latente da nossa tradição autoritária. Urdida e testada na sociedade americana, a guerra híbrida de que somos vítimas é uma estratégia baseada na manipulação de informações e na desestabilização de governos populares. Jessé defende que, no Brasil, ela encontrou uma organização criminosa disposta a colocar em prática sua máquina de morte, abrindo caminho para o assalto às nossas riquezas, o sucateamento da nossa indústria e o ataque aos direitos mais básicos da população. Esta não é nenhuma teoria conspiratória para explicar a nossa tragédia, e sim uma análise aguçada e abrangente que revela os detalhes sombrios de um projeto muito bem-articulado de destruição da arte, da cultura e da autoestima do povo brasileiro - em nome de Deus, da pátria e do falso moralismo travestido de combate à corrupção."


Por fim, outros títulos do autor muito interessantes: A Elite do Atraso e A Classe Média no Espelho.


Bombinhas, 22 de dezembro de 2023.











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