Fragmentos...
Eu era talvez um elemento estranho.
Viajei trinta horas com o pensamento em branco.
Neologismo, arcaísmos, metáforas geniais, galicismos, cacófatos.
Personagens tão obscuros quanto eu mesmo.
Ela sempre tinha uma resposta para tudo.
Aristóteles era mudo até os oito anos, não sei de onde ela tirou isso.
A passagem por Budapeste se dissipara no meu cérebro.
Com um colete cáqui cheio de bolsos.
Cheguei ao Danúbio tão depressa que olhei meus pés, para me assegurar de andar com eles e não com o pensamento.
Portanto, quedei na expectativa de novas palavras.
José Costa.
Adquirindo como que rugas na voz.
Ghost-writers.
Truncar a veia criadora na plenitude da vida.
Houve um átimo de silêncio.
Quebrou uma onda mais forte.
Acho que a primavera fazia bem a ela.
Serviu um espaguete à bolonhesa preparado na hora.
Eu bicava palavras aqui e ali de línguas que conhecera, um pouco assim como um recém-solteiro sai a revisitar antigas namoradas.
Dormitei um tempo no salão de embarque.
De longe avistei a vila de casas gêmeas.
Ao som de um mar.
(Em Budapeste se fala o húngaro).
Difícil mesmo seria apagá-lo da mente.
Ali, por uns segundos tive a sensação de ter desembarcado em um país de língua desconhecida, o que para mim era sempre uma sensação boa, era como se a vida fosse partir do zero.
Resenha de "Budapeste", de Chico Buarque*
Introdução
"Budapeste", publicado em 2003, é um romance instigante que revela a maestria de Chico Buarque na construção de narrativas que exploram a complexidade das relações humanas, a identidade e o papel da linguagem. Ambientada em um universo que oscila entre o real e o imaginário, a obra narra a história de José Costa, um ghost-writer que vive em um Brasil contemporâneo, mas que se vê cada vez mais seduzido pela ideia de uma vida em Budapeste, uma cidade que se torna um símbolo de suas aspirações e de sua busca por significado.
Enredo e Temas
A trama se desenrola em torno de José Costa, um escritor que se sente perdido e insatisfeito com sua vida. O protagonista, que é de origem brasileira, vive um cotidiano repleto de convenções, mas encontra na língua húngara uma forma de libertação. Sua imersão em Budapeste, cidade que nunca visitou, é um reflexo de seu desejo por uma nova identidade, longe das amarras da sua realidade. O romance se desenvolve em um ritmo que mistura o cotidiano de José, suas reflexões íntimas e as interações com personagens que compõem seu universo — desde sua esposa, até amigos e amantes, que representam diferentes aspectos de sua vida.
Um dos temas centrais da obra é a busca por identidade em um mundo globalizado, onde as fronteiras culturais se tornam cada vez mais fluidas. A relação de José com a língua e com a cultura húngara ilustra essa busca. O ato de escrever se transforma em um ato de criação da própria identidade, onde a possibilidade de se reinventar é tanto uma esperança quanto uma armadilha. Através dessa construção, Buarque explora a relação entre linguagem, cultura e subjetividade, questionando o que realmente significa pertencer a um lugar.
Estilo e Estrutura
Chico Buarque é conhecido por seu estilo poético e suas habilidades narrativas, e "Budapeste" não é exceção. A prosa é rica em metáforas e imagens, criando uma atmosfera que cativa o leitor desde as primeiras páginas. A estrutura do romance é não linear, alternando entre flashbacks e devaneios do protagonista, o que proporciona uma leitura dinâmica e envolvente. Essa estrutura fragmentada reflete a própria confusão de José em relação à sua identidade, permitindo que o leitor vivencie essa busca de forma intensa.
Além disso, o uso da língua é uma característica marcante na obra. A maneira como José se apropria do húngaro e sua tentativa de dominá-lo se tornam uma metáfora para sua luta interna. Buarque utiliza a linguagem não apenas como um meio de comunicação, mas como um elemento fundamental na construção de identidade. A intertextualidade com a literatura e a música também é uma marca registrada do autor, enriquecendo ainda mais a narrativa e trazendo uma profundidade adicional à experiência de leitura.
Conclusão
"Budapeste" é uma obra que vai além de um simples romance; é uma reflexão profunda sobre a busca por identidade em tempos de incerteza e transformação. Por meio de José Costa, Chico Buarque nos convida a refletir sobre nossas próprias vidas e os lugares que habitamos — tanto físicos quanto simbólicos. A habilidade do autor em mesclar elementos autobiográficos, culturais e ficcionais resulta em uma obra que ressoa com o leitor, estimulando questões sobre pertencimento, linguagem e a natureza da criatividade.
Em suma, "Budapeste" é um testemunho da capacidade de Chico Buarque de transcender fronteiras, tanto literárias quanto existenciais. A obra se afirma como uma das mais importantes da literatura brasileira contemporânea, solidificando o autor como uma voz única e influente na reflexão sobre a condição humana.
* Texto criado pelo ChatGPT.
Resenha de "Budapeste", de Chico Buarque**
A narrativa é permeada por pares simétricos e espelhamentos, refletindo a crise de identidade do protagonista. José Costa vive entre duas culturas, duas línguas e duas mulheres, o que intensifica seu conflito interno. A obra discute temas como a busca por identidade, a alienação e a duplicidade, utilizando a cidade de Budapeste como um símbolo de mistério e transformação.
O romance também aborda a questão da autoria e do anonimato. Como ghost-writer, José Costa escreve livros que nunca levam seu nome, o que o leva a questionar seu próprio valor e existência. A escrita de Buarque é rica em detalhes e metáforas, criando uma atmosfera envolvente e reflexiva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por sua contribuição!